sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cinematografia #02











« ... por mim, situo a ruptura ... em O Passado e o Presente ... :
a) a alternância de grandes sequências sem diálogos com sequências muito faladas, a necrofilia como forma suprema da paixão, os estratificados pontos de vista das classes sociais e o tema das flores (flores para os mortos e flores dos mortos-vivos);
b) ... corporalidade vincadamente fantomática, em que os oito protagonistas se movem como espectros, numa casa igualmente espectral ou em locais associáveis à morte (cemitério, igreja);
c) ... dominado pela teatralidade da representação. Simultaneamente, o texto dito é, não só também ultra-teatral, como é um texto sem qualquer correspondência com o português usual, acentuando, até à caricatura, a inverosimilhança dos diálogos e das situações;
d) ... um evidente desequilíbrio entre a força das mulheres e a fraqueza dos homens.
Através do tema dos gémeos, o tema do duplo era, pela primeira vez, dominante na obra de Oliveira. Através da "adoradora de maridos defuntos", a morte e a imagem dos mortos eram assumidas como plétora do amor. Na casa murada e muralhada de Vanda ... celebrou-se, pela primeira vez, a representação necrófila e sacral da dissociação entre os corpos e o sexo, retirando espaço e tempo à impossível unidade entre o homem e a mulher.»
João Bénard da Costa, Cristão Pletórico, Turim, 2000

Um comentário:

Anônimo disse...

as rupturas não existem...são utópicas...aconteceram.transformam-se em factos.contudo transformam-nos.é essa a ruptura!só pode...